domingo, 31 de julho de 2011

...



“Sem tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte… Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.”
 
 
RUBEM ALVES 

O tempo estava certo



  "Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem. E, no auge da sua descrença, o dia amanheceu de novo.
  Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranquilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade.
  O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
 
 
MARLA DE QUEIROZ

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metade


 

Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será que você está agora?

ADRIANA CALCANHOTO


sábado, 30 de julho de 2011

desperdício


A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

PABLO NERUDA

gostaria



Queria compartilhar contigo os momentos mais simples
e sem importância.
Por exemplo:
sair contigo para passear, sentir-te apoiada em meu braço,
ver-te feliz ao meu lado
alheia a todo mundo que passasse.

Gostaria de sair contigo para ouvir música, ir ao cinema,
tomar sorvete, sentar num restaurante
diante do mar,
olhar as coisas, olhar a vida, olhar o mundo
despreocupadamente,
e conversar sobre "nós" – esse "nós" clandestino
que se divide em "tu e eu"
quando chega gente.

Encontrar alguém que perguntasse: "Então, como vão vocês?"
E me chamasse pelo nome, e te chamasse pelo nome
e juntasse assim nossos nomes, naturalmente,
na mesma preocupação.

Gostaria de poder de repente te dizer:
Vamos voltar pra casa...
( Como se felicidade pudesse ser uma coisa
a que tivéssemos direito como toda gente)
Queria partilhar contigo os momentos menores
da minha vida,
porque os grandes já são teus.

JG de Araujo Jorge


mario quintana



sexta-feira, 29 de julho de 2011

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                                   quem é você
                                   que de repente
                                   surgiu em minha vida
                                   e, que pra mim,
                                   já se tornou
                                   a pessoa mais querida?
   
                                   quem é você
                                   que não se anunciou
                                   que sua chegada não avisou
                                   e, que mesmo a distância
                                   meu coração conquistou?
  
                                   quem é você
                                   que leva a sério
                                   minha insegurança
                                   e, que desse jeito tão doce
                                   me renova a esperança?
   
                                   quem é você?

                                   que aliviou o meu pranto
                                   que eu já quero tanto
                                   quem é você
                                   que eu espero a todo instante?
  
                                   quem é você
                                   que ri e chora comigo?
                                   quem é você
                                   que se tornou docemente
                                   o meu ombro amigo?
   
                                   quem é você
                                   que acredita em mim
                                   me chama de minha flor
                                   e quer cultivar meu jardim?
  
                                   quem é você
                                   que conquistou, aqui, o seu lugar
                                   e que já me garantiu
                                   tantas noites de terno luar?
 
                                   Quem é você, meu doce amor?
 
 
                                    ROSANGILA RAFFO



Dentro de mim mora um anjo que vive do jeito que o diabo gosta.
( Blog Palavras ao Vento)

Pós-verbo

                       
                  

quinta-feira, 28 de julho de 2011

canção do dia de sempre



 









Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...


MÁRIO QUINTANA

terça-feira, 26 de julho de 2011

revelação


Eu me esqueci no armário.
      
Pensei estar vivendo,
estudando, trabalhando, sendo!
      
Pensei ter amado e odiado,
aprendido e ensinado,
fugido e lutado,
confundido e explicado.
     
Mas hoje, surpreso,
me vi no armário embutido
calado, sozinho, perdido, parado.
    
 
FÁBIO ROCHA

bob marley


      
"Há pessoas que amam o poder e outras que têm o poder de amar"

segunda-feira, 25 de julho de 2011

ausência

        
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
 
VINICIUS DE MORAES

.

       
                               Os ventos que as vezes tiram
                               algo que amamos, são os
                               mesmos que trazem algo que
                               aprendemos a amar...
                               por isso não devemos chorar
                               pelo que nos foi tirado e sim,
                               aprender a amar o que nos foi
                               dado. Pois tudo aquilo que é
                               realmente nosso, nunca se vai
                               para sempre
      
      
                               BOB MARLEY

domingo, 24 de julho de 2011

lua doida


 
  
                                   Assim como a lua vela
                                   No céu e dentro do arroio
                                   Você também se revela
                                   Na janela e no meu olho
                                   Não sei dizer, na verdade,
                                   Quem é que reflete quem
                                   O céu sem lua é saudade
                                   Sem você não sou ninguém
   
                                   A tua imagem dentro do olhar
                                   E a lua doida mudando no alto
                                   São feitas cachoeira dando o salto
                                   Enganam que são distantes e tão frias
                                   Pra seduzir
                                   Sabem ficar
                                   Sabem partir
   
                                   Teu coração lua cheia
                                   Me diz cada vez que choro
                                   Igual a esfinge na areia
                                   Me decifra ou te devoro
                                   Mas eu quedo enfeitiçada
                                   Feito os peixes no vau do arroio
                                   Com o teu perfil debruçado
                                   Na janela do meu olho
   
  
                                   ALDIR BLANC / TAVITO

pássaro e mulher


Quem me prende
mais do que a terra?
Impossível o voo
agora.
Quente fremente
a intenção de alguém.
Desfez-se a palidez
perdi meu voo
nas grades de seu peito.
Aprísiona-me – grilhão -
o seio suave e
no calor do instante

DORA FERREIRA DA SILVA

Janeiro




Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.
 
 
GUILHERME DE ALMEIDA

sábado, 23 de julho de 2011

tatuagem


  
                       Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
                       Que é pra te dar coragem
                       Pra seguir viagem
                       Quando a noite vem
                       E também pra me perpetuar em tua escrava
                       Que você pega, esfrega, nega
                       Mas não lava
   
                       Quero brincar no teu corpo feito bailarina
                       Que logo se alucina
                       Salta e te ilumina
                       Quando a noite vem
                       E nos músculos exaustos do teu braço
                       Repousar frouxa, murcha, farta
                       Morta de cansaço
   
                       Quero pesar feito cruz nas tuas costas
                       Que te retalha em postas
                       Mas no fundo gostas
                       Quando a noite vem
                       Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
                       Marcada a frio, a ferro e fogo
                       Em carne viva
    
                      Corações de mãe
                      Arpões, sereias e serpentes
                      Que te rabiscam o corpo todo
                      Mas não sentes
 
 
                      CHICO BUARQUE

sexta-feira, 22 de julho de 2011

a vida é uma vitrina


A Vida é uma vitrina de tecidos.
A gente, por instantes,
fica de olhos perdidos
na beleza das telas deslumbrantes.
Depois, entra na loja e vai comprar.
Caixeirinha gentil, a Ilusão
vem vender ao balcão
e não se cansa de mostrar,
não se cansa
de exibir delicados,
rendilhados,
leves panos de Sonho e de Esperança.
As mãos tocam de leve
na leveza das telas.
Não vá o gesto, por mais breve,
esgarçar uma delas!
Todas tão lindas! Mas a que fascina
não está ali na grande confusão
das peças espalhadas no balcão.
E a gente diz,
num ar feliz:
"Levo daquela rósea, muito fina,
exposta na vitrina."
Logo o Destino vem (da loja é o dono)
e fala sobranceiro, com entono:
"É artigo raro.
Marca, padrão e cor: - Felicidade.
É um artigo de alta qualidade
o mais caro
de todos os tecidos.
São cortes especiais... e estão vendidos!"
...................................................................
E a gente vai comprar do áspero pano
que se encontra na seção do Desengano.

   
  
GRACIETTE SALMON

quinta-feira, 21 de julho de 2011

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Matar o sonho é matarmo-nos.
É mutilar a nossa alma.
O sonho é o que temos de realmente nosso,
de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
 
 
FERNANDO PESSOA

ferido de morte


  
me deixe quieto
no meu canto
        
não toque no rádio
não mexa na ferida
nem provoque o sonho
         
deixe a noite
acontecer sem pressa
          
não fale meu nome
não atravesse a ponte
       
fique onde estás
e me deixe entregue
ao meu silêncio
       
hoje,
eu calo por nós dois
        
        
ADEMIR ANTONIO BACCA

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A casa



Não só digo adeus
aos teus dois quartos
à sala ampla
a uma rede sonhada na janela
Digo adeus aos teus cheiros
a essas baratas
que vez por outra te rondaram.
Campainhas, telefones,
brigas e remédios ficarão para trás
além dos sustos
E digo adeus aos fantasmas
que te cercam
Também aos teus arbustos.
E quando uma voltana chave
Digo adeus aos teus ruídos
peregrinos
ecos
Movimentos mais amenos do tempo.
           
           
SUSANA VARGAS

nós


  
essa coisa
que há em nós
        
busca que não cessa
palavra que não sacia
        
esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias
        
essa coisa
que há em nós
         
bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente
       
força estranha
que há em nós
e nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam sobre nós
      
      
ADEMIR ANTONIO BACCA

terça-feira, 19 de julho de 2011

despues del amor


  
  
No pudimos ser. La tierra
no pudo tanto. No somos
cuanto se propuso el sol
en un anhelo remoto.
Un pie se acerca a lo claro,
en lo oscuro insiste el otro.
Porque el amor no es perpetuo
en nadie, ni en mí tampoco.
El odio aguarda un instante
dentro del carbón más hondo.
Rojo es el odio y nutrido.
El amor, pálido y solo.
Cansado de odiar, te amo.
Cansado de amar, te odio.
Llueve tiempo, llueve tiempo.
Y un día triste entre todos,
triste por toda la tierra,
triste desde mí hasta el lobo,
dormimos y despertamos
con un tigre entre los ojos.
Piedras, hombres como piedras,
duros y plenos de encono,
chocan en el aire, donde
chocan las piedras de pronto.
Soledades que hoy rechazan
y ayer juntaban sus rostros.
Soledades que en el beso
guardan el rugido sordo.
Soledades, para siempre.
Soledades sin apoyo.
Cuerpos como un mar voraz
entrechocando, furioso.
Solitariamente atados
el amor, por el odio.
Por las venas surgen hombres,
cruzan las ciudades, sordos.
En el corazón arraiga
Solitariamente todo.
Huellas sin campaña quedan
como en el agua, en el fondo.
Sólo una voz, a lo lejos,
siempre a lo lejos la oigo,
acompaña y hace ir-
igual que el cuello a los hombros.
Só1o una voz me arrebata
este armazón espinoso
de vello retrocedido
y erizado que, me pongo.
Los secos vientos no pueden
secar los mares jugosos.
Y el corazón permanece
fresco en su cárcel de agosto,
porque esa voz es el alma
mas tierna de los arroyos.
"Mi fiel: me acuerdo de ti
después del sol y del polvo,
antes de la misma luna,
tumba de un sueño amoroso."
Amor: aleja mi ser
de sus primeros escombros,
y edificándome, dicta
una verdad como un soplo.
Después del amor, la tierra.
Después de la tierra, todo.
     
       
MIGUEL HERNANDEZ


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Não te gosto em silêncio


       
                                                                             
Não te gosto em silêncio porque te sinto distante...
Entre tua boca e a palavra mora talvez minha angústia
como entre o dia e a noite
vacila a longa dúvida do crepúsculo.
  
Não te gosto em silêncio, quando há em teus olhos, pousados,
dois estranhos pássaros noturnos,
e teus lábios emudecem como a fonte nos ásperos
e intermináveis invernos.
    
Não te gosto em silêncio quando te envolves com as coisas
que te cercam, como se fosses uma delas,
quando estás como as águas paradas, cuja beleza
é apenas o reflexo das estrelas.
            
Por isto te provoco e te atiro perguntas
como pedras quebrando a impassibilidade do lago,
como pancadas no gongo que estremece e vibra
e te traz à tona para mim.
               
Não te gosto em silêncio, porque parece que atrás de tua voz
ainda se esconde alguém que tu própria não conheces,
a alguém embuçado a ameaçar nosso sonho
e que só tuas palavras poderão expulsar.
             
Não te gosto em silêncio, porque preciso ainda de tua palavra
para te descobrir,
lanterna adiante de meu passo, alvorada desenterrando
na noite emaranhada meu indeciso caminho.
                     
Porque preciso ainda que tua palavra chegue como um vento forte
arrastando nuvens, limpando céus e horizontes,
levando folhas doentes, te descobrindo ao sol...
                     
Um dia te gostarei em silêncio. E então me recolherei em teu silêncio,
e procurarei a sombra, como o pássaro na hora da tarde,
e porque o sol estará em nós e nada turvará meu pensamento,
entre tua boca e a palavra haverá apenas o meu beijo.
                
    
J.G. de ARAÚJO JORGE

tua presença



    
"Em certas ocasiões nossa própria luz quase se apaga e é reacendida pela faísca de alguma outra pessoa. Cada um de nós tem motivo para pensar com muita gratidão nos que acenderam a chama dentro de nós".
 
 
ALBERT SCHWEITZER

esperança



     
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

     
    
MÁRIO QUINTANA

manhã para se feliz


     
Esta é uma manhã para ser feliz
em um lugar, de algum modo,
é uma manhã para ser feliz...
   
Esta é uma manhã para dois, para dois juntos
abraçados e tontos, num remoinho
não como nós, eu aqui, diante do sol, das árvores,
de tudo envergonhado porque estou sozinho...
   
Esta é uma manhã que me fala de ti, nas nuvens,
na transparência do ar,
neste azul do céu, imaculado,
na beleza das coisas tocadas de sonho
e imaturidade...
    
Uma manhã de festa
para ser feliz de verdade!
Esta é uma manhã
para te Ter ao meu lado...
    
Quando Deus fez uma manhã como esta
estava com certeza apaixonado...
  
   
J.G. de ARAÚJO JORGE

-



                      Eu preciso de você
                      porque tudo que eu pensei
                      que pudesse desfrutar da vida
                      sem você não sei
                      Meu amanhecer é lindo
                      se você comigo está
                      tudo é mais bonito
                      No sorriso que você me dá
                      Eu não vivo sem você
                      Porque tudo que eu andei
                      Procurando pela vida agora eu sei
                      Que andei sabendo
                      Que em algum lugar te encontraria
                      Pois você já era meu e eu sabia
                      Como a abelha necessita de uma flor
                      Eu preciso de você e desse amor
                      Como a terra necessita o sol e a chuva
                      Eu te preciso
                      E não vivo um só minuto sem você
                      Eu preciso de você
                      Porque em toda minha vida
                      Nem por uma vez amei alguém assim
                      Você é tudo, é muito mais
                      Do que sonhei pra mim
                      E é por isso que eu preciso de você.
   
   
                       ROBERTO CARLOS

falta de ar


           
                      Há dias que posso passar sem sol, sem luz,
                      sem pão,
                      sem tudo enfim...
  
                      (Tenho até a impressão de que não preciso de nada...
                      ... nem mesmo de mim...)
  
                      Mas há dias, amor... ( e parece mentira)
                      - nem eu sei explicar o porquê
                      de tão grande aflição -
   
                      em que não posso passar sem Você
                      um segundo que seja!
                      - de repente preciso encontrá-la, é preciso que a veja -
    
                      - Você é o ar com que respira
                      meu coração !
  
   
                      J. G. de ARAÚJO JORGE

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O Poeta inventa viagem...


                
                                           
                          Se for possível, manda-me dizer:
                          - É lua cheia. A casa está vazia -
                          Manda-me dizer, e o paraíso
                          Há de ficar mais perto, e mais recente
                          Me há de parecer teu rosto incerto.
                          Manda-me buscar se tens o dia
                          Tão longo como a noite. Se é verdade
                          Que sem mim só vês monotonia.
                          E se te lembras do brilho das marés
                          De alguns peixes rosados
                          Numas águas
                          E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
                          - É lua nova -
                          E revestida de luz te volto a ver.
       
    
                          HILDA HILST

Lugares proibidos


Eu gosto do claro quando é claro que você me ama
Eu gosto do escuro no escuro com você na cama
Eu gosto do não se você diz não viver sem mim
Eu gosto de tudo, tudo o que traz você aqui
Eu gosto do nada, nada que te leve para longe
Eu amo a demora sempre que o nosso beijo é longo
Adoro a pressa quando sinto
Sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Baby, com você já, já
  
Mande um buquê de rosas, rosa ou salmão
Versos e beijos e o seu nome no cartão
Me leve café na cama amanhã
Eu finjo que eu não esperava
Gosto de fazer amor fora de hora
Lugares proibidos com você na estrada
Adoro surpresas sem datas
Chega mais cedo amor
Eu finjo que eu não esperava
    
Eu gosto da falta quando falta mais juízo em nós
E de telefone, se do outro lado é a sua voz
Adoro a pressa quando sinto
Sua pressa em vir me amar
Venero a saudade quando ela está pra terminar
Baby com você chegando já
 
 
HELENA ELIS

domingo, 17 de julho de 2011

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Da noite


  
   
                        Que canto há de cantar o que perdura?
                        A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
                        A vertigem de ser, a asa, o grito.
     
                        Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
                        O que tu pensas gozo é tão finito
                        E o que pensas amor é muito mais.
         
                        Como cobrir-te de pássaros e plumas
                        E ao mesmo tempo te dizer adeus
                        Porque imperfeito és carne e perecível
                        E o que eu desejo é luz e imaterial.
        
                        Que canto há de cantar o indefinível?
                        O toque sem tocar, o olhar sem ver
                        A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
       
                        Como te amar, sem nunca merecer?
    
   
                        HILDA HILST